sexta-feira, 15 de agosto de 2008

LIMPEZA ÉTNICA


PARECE GRANDE MAS NÃO DEIXEM DE LER, PORQUE O QUE O MÁRIO CRESPO ESCREVE É, EXACTAMENTE, O QUE TODOS NÓS SENTIMOS. DIVULGUEM O MAIS POSSÍVEL. VALE a PENA.




O homem, jovem, movimentava-se num desespero agitado entre um grupo de mulheres vestidas de negro que lamentavam:'Perdi tudo!' 'O que é que perdeu?' perguntou-lhe um repórter. 'Entraram-me em casa, espatifaram tudo. Levaram o plasma, o DVD a aparelhagem...' Esta foi uma das esclarecedoras declarações dos auto desalojados da Quinta da Fonte. A imagem do absurdo em que a assistência social se tornou em Portugal fica clara quando é complementada com as informações do presidente da Câmara de Loures: uma elevadíssima percentagem da população do bairro recebe rendimento de inserção social e paga 'quatro ou cinco euros de renda mensal' pelas habitações camarárias. Dias depois, noutra reportagem outro jovem adulto mostrava a sua casa vandalizada, apontando a sala de onde tinham levado a TV e os DVD. A seguir, transtornadíssimo, ia ao que tinha sido o quarto dos filhos dizendo que 'até a TV e a playstation das crianças' lhe tinham roubado. Neste país, tão cheio de dificuldades para quem tem rendimentos declarados, dinheiro público não pode continuar a ser desviado para sustentar predadores profissionais dos fundos constituídos em boa fé para atender a situações excepcionais de carência. A culpa não é só de quem usufrui desses dinheiros. A principal responsabilidade destes desvios cai sobre os oportunismos políticos que à custa destas bizarras benesses, compraram votos de Norte a Sul. É inexplicável num país de economias domésticas esfrangalhadas por uma Euribor com freio nos dentes que há famílias que pagam 'quatro ou cinco Euros de renda' à câmara de Loures e no fim do mês recebem o rendimento social de inserção que, se habilmente requerido por um grupo familiar de cinco ou seis pessoas, atinge quantias muito acima do ordenado mínimo. É inaceitável que estes beneficiários de tudo e mais alguma coisa ainda querem que os seus T2 e T3 a 'quatro ou cinco euros mensais' lhes sejam dados em zonas 'onde não haja pretos'. Não é o sistema em Portugal que marginaliza comunidades. O sistema é que se tem vindo a alhear da realidade e da decência e agora é confrontado por elas em plena rua com manifestações de índole intoleravelmente racista e saraivada de balas de grande calibre disparadas com impunidade. O país inteiro viu uma dezena de homens armados a fazer fogo na via pública. Não foram detidos embora sejam facilmente identificáveis. Pelo contrário. Do silêncio cúmplice do grupo de marginais sai eloquente uma mensagem de ameaça de contorno criminoso - 'ou nos dão uma zona etnicamente limpa ou matamos.' A resposta do Estado veio numa patética distribuição de flores a cabecilhas de gangs de traficantes e auto denominados representantes comunitários, entre os sorrisos da resignação embaraçada dos responsáveis autárquicos e do governo civil. Cá fora, no terreno, o único elemento que ainda nos separa da barbárie e da anarquia mantém na Quinta da Fonte uma guarda de 24 horas por dia com metralhadoras e coletes à prova de bala. Provavelmente, enquanto arriscam a vida neste parque temático de incongruências sócio-políticas, os defensores do que nos resta de ordem pensam que ganham menos que um desses agregados familiares de profissionais da extorsão e que o ordenado da PSP deste mês de Julho se vai ressentir outra vez da subida da Euribor.

domingo, 3 de agosto de 2008

O Governo da Suíça, onde a prostituição é legal, calcula que mais de três mil mulheres sejam vítimas de tráfico humano. O PÚBLICO falou com o gerente



A protagonista desta história é uma mulher. Na publicidade, a câmara acompanha-a, enquanto é empurrada, arrastada pelos cabelos, leiloada como gado e colocada na montra de uma das muitas casas de prostituição que legalmente existem na Suíça. Na vida real, o Governo suíço calcula que mais de três milhares sejam vítimas de tráfico humano no país.
"Os adeptos do Europeu chegam, olham e vão-se embora, não são bons clientes", disse ao PÚBLICO Remy, gerente do hotel Petite Fleur, edifício de três pisos (24 quartos) não muito distante do centro de Zurique que se gaba de ser o primeiro bordel legal na Suíça.
O país legalizou os bordéis em 1992, o Petite Fleur abriu em 1997. "Não foi fácil. Só conseguimos a licença após três anos de burocracias e de chatices", recorda Remy, com demasiadas "experiências negativas" para revelar o seu verdadeiro nome.
No Petite Fleur, tudo funciona às claras. As mulheres arrendam um quarto (pagam por noite à volta de 150 euros) e ficam com os lucros. "São livres: trabalham quando querem, dormem quando querem, têm televisão, acesso à cozinha, protecção 24 horas por dia e tudo. E aqui não há chefes que ficam com 50 por cento de cada serviço. Se tiverem proxeneta [papel ilegal e pouco vulgar na Suíça], não as aceitamos. Temos tido inclusive casos de meninas que chegam com chefe e aqui aprendem que é melhor trabalhar por conta própria. Não aconteceu nem uma, nem duas, nem três vezes. ‘Quero fazer a minha vida sozinha, sem um homem que me fique com o dinheiro.’"
Com o Europeu, Remy não notou qualquer alteração no ritmo diário. Nem mais nem menos clientes, nem mais nem menos prostitutas. "Há muitos rapazes novos que vêm cá, mas não ficam."
Não obstante a celebração do desporto-rei, o futebol, este evento ostenta um lado negro que, inexplicavelmente, parece passar despercebido aos olhos dos media: o tráfico de mulheres para a prostituição.
Com efeito, eventos desportivos de projecção alargada, como o Euro 2008, não movem somente a bola entre as quatro linhas; ensejam a coisificação e exploração sexual de mulheres que, por circunstâncias diversas, caem nas teias das redes e máfias de tráfico de pessoas.
Para difundir informações sobre a dimensão do tráfico humano, o perfil das vítimas e dos recrutadores, cerca de 25 associações de defesa dos direitos humanos, instituições de apoio, eclesiásticas e sindicalistas juntaram-se para lançar a campanha "Euro 2008 contra o tráfico de mulheres". Iniciada em Março, a campanha adquire maior intensidade no mês de Junho, terminando no Outono.
As reivindicações do "Euro 2008 contra o tráfico de mulheres" consistem nas seguintes linhas:
.Informação: os participantes directos e indirectos do Euro 2008 devem consciencializar-se dos contornos e corolários do tráfico de seres humanos;
.Prevenção: homens e mulheres devem saber agir perante uma vítima de tráfico e utilizar correctamente os instrumentos de denúncia.
. Protecção: o combate ao tráfico de pessoas passa pela criação de políticas convergentes para a protecção dos direitos das vítimas.


No caso de Portugal, o Código Penal português foi revisto: a definição de tráfico humano foi alargada e as penas contra os traficantes foram intensificadas: “É punido com pena de prisão de três a 12 anos quem oferecer, entregar, aliciar, aceitar, transportar, alojar ou acolher pessoas para fins de exploração sexual, do trabalho ou extracção de órgãos”. Portugal colocou em marcha ainda, em 2007, o seu I Plano Nacional Contra o Tráfico de Seres Humanos, que pretende optimizar as plataformas de apoio às vítimas, testemunhas e terceiros. Recentemente, como havia anteriormente dito, foi inaugurado o CAP que, dentro de um mês, vai acolher seis mulheres vítimas de tráfico humano.


*ESCRITO POR:ANABELA SANTOS